23/09/2009

DO ESQUERDISMO ACTUAL




Do esquerdismo actual
por Baptista-Bastos Hoje



Vai por aí um alarido cavernoso sobre a eventualidade de o Bloco de Esquerda poder ser o fiel da balança nas eleições de 27. É o regresso do PREC! É a ressurreição do ideário soviético! As nacionalizações vão voltar! Há uma mistura de pânico, de ignorância e de desonestidade intelectual nestes assustadores avisos. Mais provável seria o PS deglutir o Bloco do que se verificar algo de semelhante ao que afirma ou sugere a gritaria. Há trinta anos, Willy Brandt ilustrou a tese: "Os grandes esquerdistas de hoje serão os bons sociais-democratas de amanhã. "A História deu-lhe razão. Em Portugal, então, as transferências de campo chegam aos níveis do abjecto.

Por que sobe o Bloco? O estilo do discurso, mordaz, irónico, estatístico, liso e curto seduz os jovens urbanos e uma faixa da população que vê, sobretudo em Louçã, a renovação constante das suas indignações. Adicione-se o cansaço do rotativismo actual, a troca de cadeiras entre o PS e o PSD, e a imposição de uma democracia de opinião, notoriamente pendente para um lado, medíocre e ignara, e talvez encontremos aí as causas da coisa.

O Bloco está em idêntica situação à do PCP: se muda, associando-se aos poderes públicos, desfigura; se não muda, estiola e deixará de pertencer à sociedade participativa. O cansaço é uma possibilidade tão real como o desinteresse (e até o nojo) que suscitam os partidos da "alternância." Embora o PCP possua uma longa história de resistência, que lhe tem permitido sobreviver a todos os naufrágios e a todos os cercos.

Seja como for, as eleições de 27 terão, de certeza, um impacte muito forte na estrutura habitual do sistema. Substituo a palavra "sistema" por esquema, a fim de esclarecer melhor a natureza do êxito do Bloco, cuja capacidade discursiva lhe deu créditos fundados no afrontamento e na erosão do establishment. Na ausência de ideologia, a unidade da sua sobrevivência e do seu êxito talvez resida na improvável mistura de estalinismo, com maoísmo e trotsquismo. Essa identidade flexível, essa simbiose dos contrários é matéria de estudo. De qualquer das formas, não passa de um epifenómeno, emerso do desespero das pessoas, da desesperança social e do descontentamento de um povo que foi empurrado para o mundo sem saída do PS ou do PSD.

Há outras possibilidades, exemplifica o Bloco, contra aqueles que defendem o argumento clássico da "alternância." A própria existência do agrupamento chamou o PCP a novos deveres e a outras responsabilidades. E a possibilidade de qualquer deles chegar ao poder começa a deixar de ser uma hipótese metafórica.

A verdade é que a situação actual não pode manter-se. E os sinais indicam que são insuficientes, por ineficazes, os procedimentos e as decisões até agora tomados pelos partidos. A ver vamos.


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