02/03/2007

ALVITO - CONCERTO - 03 DE MARÇO




Câmara e Diocese unem esforços para a defesa de património esquecido


Música na Igreja Matriz de Alvito,
um monumento nacional em risco de ruína


Apostando forte numa descentralização cultural que não descura a qualidade, o Festival Terras sem Sombra traz um ciclo de grandes intérpretes ao interior do Baixo Alentejo. Miguel Serdoura, figura de referência no panorama internacional do alaúde, dá a conhecer repertório de Canções Sacras e Seculares dos Séculos XVII e XVIII, com Partitas, Sonatas e Corais de Esaias Reusner e Adamo Falckenhagen. O concerto terá lugar, em 3 de Março, pelas 21H30, num edifício de grande beleza.

Classificada como Monumento Nacional desde 1939 e propriedade do Estado, a igreja matriz de Alvito é um dos principais exemplos da arquitectura manuelina do Sul de Portugal, destacando-se não só pela sofisticação da sua silhueta povoada de ameias, reminiscência de um tempo em que as igrejas também tinham funções defensivas, mas por todo um vasto espólio artístico, incluindo pinturas murais, sobre madeira e sobre tela, azulejaria, imagens, peças de ourivesaria e paramentos. É, sem favor, um dos tesouros do património português. Mas isto não evita que esteja em perigo de sofrer graves deteriorações. Apoiado sobre colunas de pedra que apresentam fissuras – um fenómeno conhecido pelo nome de esquirolamento –, o coro alto do edifício afunda-se lentamente. Um telhado novo, colocado há poucos anos pelos serviços oficiais, veio agravar ainda mais a situação, trazendo mais peso a uma estrutura já de si fragilizada. Na capela-mor, centenas de azulejos estão a desprender-se das paredes e correm o risco de colapso, como um castelo de cartas. A passagem do trânsito automóvel nas imediações não ajuda.
O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e a Câmara Municipal temem o pior, a ruína de algumas das suas estruturas da igreja, com o consequente desaparecimento de obras de arte importantes. Há também riscos no que toca à utilização regular do espaço litúrgico. Verbas para a recuperação do monumento por parte do seu proprietário, o Estado, não existem. A resolução dos problemas tem sido sistematicamente protelada. Mas na terra não se fica de braços cruzados. Através de uma parceria que envolve a Diocese, a Paróquia e o Município, existe o firme propósito de não deixar esquecer o dossier da igreja matriz de Alvito. O primeiro passo foi dado em 2006, com o restauro de uma importante pintura mural do Renascimento em risco de perda, iniciativa promovida pela Associação de Municípios do Alentejo Central e que foi inteiramente suportada por mecenato privado. Agora, enquanto se prepara uma exposição que visa divulgar o surpreendente espólio de arte sacra do concelho, o protagonismo vai caber à música, através de um concerto integrado no 3.º Festival Terras sem Sombra de Música Sacra. Num momento em que o país está a esquecer-se do interior, é fundamental que este faça ouvir a sua voz com actividades de qualidade no campo da cultura, como acentuam os organizadores do Festival, um evento nascido da colaboração do Departamento do Património da Diocese de Beja com a Arte das Musas e que, ao atingir a terceira edição, conta com o apoio do Ministério da Cultura, da Região de Turismo da Planície Dourada e das autarquias da região. Um dos seus principais objectivos é precisamente chamar a atenção para monumentos religiosos que começam a estar ligados por itinerários de visita.


MIGUEL SERDOURA - VIRTUOSO DO ALAÚDE

Este artista, um dos mais brilhantes alaudistas da actualidade, nasceu em Lisboa, cidade onde iniciou os seus estudos musicais, e obteve em 1994 o diploma do curso geral de Guitarra Clássica. Em 1995 foi residir para Paris, tendo-se dedicado aí ao estudo do seu instrumento de eleição. Foi mais tarde admitido no Departamento de Música Antiga do Conservatório Superior de Paris, na classe de Claire Antonini, discípula de Eugéne Ferre. Posteriormente, de 1999 a 2004, estudou com Hopkinson Smith, mestre incontestável do alaúde, na Schola Cantorum Basiliensis (Suíça). Participou simultaneamente em diversas master classes do seu instrumento, ministradas por Rol Lisveland e outros prestigiados artistas. Em 2000 foi convidado a apresentar-se num documentário televisivo sobre o alaúde e o alaudista Hopkinson Smith, documentário que viria a ser transmitido pelos canais Arte, Mezzo, Classica, RTBF, TSR e TVE. Tem-se feito ouvir em recitais a solo em França, Alemanha, Portugal, Bélgica, e Suíça. Ministra aulas de alaúde barroco e renascentista em Paris e prepara actualmente um “Método para Alaúde Barroco” que será editado pela Sociedade Francesa de Alaúde. Ainda no âmbito da pedagogia, realiza regularmente concertos e conferências no Musée de la Musique – Cité de la Musique, em Paris. Em Outubro de 2006 efectuou uma série de concertos nos Estados Unidos (Princeton, Rochester, Los Angeles, San Diego e Berkeley).
O repertório de peças sacras e profanas dos séculos XVII e XVIII preparado para o concerto na igreja matriz de Alvito tira partido das magníficas condições acústicas do monumento e faz justiça às suas tradições musicais. Na época, Alvito destacou-se pela excelência dos músicos ao serviço das instituições locais, com destaque para a paróquia, o que não terá sido alheio à presença, na vila, de uma importante comunidade de frades da Ordem da Santíssima Trindade, especialistas em cantochão e outras modalidades da música litúrgica. Os barões, condes e marqueses de Alvito celebrizaram-se igualmente pelo apoio dado à actividade musical, tendo alguns membros desta família sido, eles próprios, intérpretes e compositores de renome.

3 comentários:

Páginas Soltas disse...

Os meus sinceros desejos que o concerto tivesse sido um êxito!

Um bem hajas Lumife...pela divulgação que fazes dos grandes nomes, que dão celebridade ao nosso Alentejo!

Uma boa semana...

Beijo da

Maria

Anónimo disse...

Grande alaudista Miguel Serdoura!!
Parabéns pelo concerto..

Anónimo disse...

Grande alaudista Miguel Serdoura!!
Parabéns pelo concerto..

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