21/01/2008

Na hora do...

foto de Pedro Moreira-Olhares


Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.



Eugénio de Andrade









Na hora do ADEUS agradeço a todas as Amigas e a todos os Amigos a sua companhia, os seus comentários, a sua amizade. Levo-os no coração. Recordá-los-ei com saudade.





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10 comentários:

Anónimo disse...

Adeus?! - o que é que isso significa?
Espero que não seja o fim nem sequer um intervalo no Alvito..., porque este faz falta.
LG

Teresa David disse...

Faço minhas as palavras do comentador anterior. Que queres dizer com este adeus num poema tão belo? Vais fechar este blog?
E eu que recordo através daqui de vez em quando o dia tão bem passado no Alvito donde guardei boas recordações humanas e fotograficas...
Bjs
TD

Teresa David disse...

Faço minhas as palavras do comentador anterior. Que queres dizer com este adeus num poema tão belo? Vais fechar este blog?
E eu que recordo através daqui de vez em quando o dia tão bem passado no Alvito donde guardei boas recordações humanas e fotograficas...
Bjs
TD

Barão da Tróia II disse...

Não concordo com isso do Adeus, boa semana

O Chaparro disse...

agora que eu regresso o meu compadre abala?!
Não pode ser.
abraço

Templo do Giraldo disse...

Agradeço a forçinha que me deste. Espero que vas passando pelo meu espaço que eu faço intenções de ca passar na tua.

saudações do templo.

Paula Raposo disse...

Um poema belíssimo de Eugénio de Andrade. Tenho saudades tuas, mas fiquei muito feliz por não te teres esquecido de mim. Adorei a tua visita. Beijos.

Templo do Giraldo disse...

Passa la por o meu quando quiseres, seras sempre bem vindo.

Um abraço do templo.

Poemas de amor e dor disse...

Caro amigo, boa tarde

Como todos sabem, e tu melhor que muitos, para se manter um blog “ganha-se” muito tempo. O tempo despendido na manutenção dos blogs é um enorme desafio para muitos. Para mim é! È como um desafio constante, uma troca de um sono certo frente a uma televisão. Todavia, só quem os tem sabe o sacrifício constante que eles envolvem.
Parece ser uma contradição, mas, não é! Graças aos blogs, tantos, como nós, enriquecemos: no estudo, na comunicação, na cultura, na solidariedade, no desafio constante, na realização dos nossos sonhos – na amizade.
Amigo, não desistas, pois, irás lamentar esta atitude. Penso que deverás reduzir o nº de blogs que tens e concentrar tudo num. Existe um espaço para o teu extraordinário trabalho e não nos podemos preocupar com a falta de comentários – o tempo escasseia para todos pese embora que estarmos presentes.
Um abraço, sempre,
Rogério Martins Simões

Anónimo disse...

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