27/06/2009

O CASO DA TVI

Por João Marcelino


1
No Parlamento, a oposição desconfiou. José Sócrates deixou que as suas palavras fossem contaminadas pela aversão que lhe merece o jornal de sexta-feira da TVI. Manuela Ferreira Leite aproveitou para fazer política e lançar a suspeita. Cavaco Silva por uma vez não foi prudente. E o primeiro-ministro, no fim, para que não restassem dúvidas quanto à sua posição e a do Governo, acabou com o negócio PT-Prisa que alguém quis sabotar com uma milimétrica fuga de informação.

Mais uma vez, a política partidária desceu aos negócios das empresas que o Estado tutela. Especulou. Mentiu. Manipulou. E, no fim, ditou as suas leis sobre um negócio que merecia ser avaliado por si mesmo - e já não vai ser.

2
Comecemos pelo principio: não acredito que José Sócrates não soubesse da eventualidade do negócio. Este governo, como qualquer governo, tem espalhados demasiados "homens de confiança". Eles andam por aí, pelas empresas do Estado, e quando não cumprem a sua obrigação acontece-lhes o mesmo que a Pina Moura: são "executados". No mínimo acabam transferidos.

Mas, ao mesmo tempo, acredito no que disse Zeinal Bava a Judite de Sousa: nunca levou o assunto formalmente à comissão executiva; logo nunca levou o assunto ao seu conselho de administração (onde estão os accionistas); logo não podia o Governo ser informado oficialmente dos contactos que estavam a decorrer entre a PT e a Prisa com vista à aquisição de 30% do capital da TVI. Sabia(m) mas não sabia(m), porque a formalidade nestes casos conta.
A suspeita principal, no entanto, também não é esta.

3
A suspeita principal, e que reflecte o Portugal que temos, é ainda mais elaborada e inquietante: o Governo quereria, através desta intervenção da PT (minoritária, de 30%), afastar da TVI o director-geral, José Eduardo Moniz. Foi nisto que Manuela Ferreira Leite investiu, de forma politicamente hábil, com a cumplicidade de Cavaco Silva.

Não sei se alguém no Governo sonhou com este cenário. Infelizmente, também considero isso possível. Estúpido, infantil, mas possível.

O que não considero possível é que uma empresa como a PT pudesse aceitar gastar 150 milhões de euros com o fim de despedir um trabalhador qualificado que pelas suas qualidades seria sempre uma peça importante para o retorno do investimento. A vida já me azedou bastante mas não ao ponto de acreditar neste cenário que inflamou Manuela Ferreira Leite e até Cavaco Silva. E se acreditasse quereria já mudar de país.

4
Dito isto acrescento que compreendo se a administração da Prisa não estiver agora tão solidária com o seu director-geral quanto estava há uma semana. É preciso não esquecer que José Eduardo Moniz explicou solenemente ao País que se as eleições do Benfica não tivessem sido antecipadas por Luís Filipe Vieira ele deixaria a TVI para disputar as eleições do clube do seu coração.

Em condições normais, numa empresa normal, num país normal, toda a gente entenderia que a administração da TVI tivesse resolvido dizer a Moniz que deixara de ter condições para trabalhar na empresa. O contrário é que, sinceramente, me parece esquisito. E, no entanto, foi isso que aconteceu. Moniz continua no seu posto. E se a Prisa o mantém seria a PT, minoritária, que daqui a seis/sete meses o iria despedir? Peço desculpa, mas o meu desencanto com a vida pública nacional ainda não chega para tanto.

Quando vejo o PS e o PSD a defenderem a independência da linha editorial de um qualquer órgão de informação, obviamente desconfio. Se há partidos que têm as mãos sujas na comunicação social portuguesa são precisamente esses dois. Os exemplos da falta de vergonha de ambos não caberiam no espaço desta crónica...



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