04/07/2009

O ESTADO DA NAÇÃO



Opinião de João Marcelino


1-O verdadeiro estado da Nação, e peço desculpa ao elevado debate que por aí decorre entre o PS e o PSD, para mim é este: quatro anos depois, uma maioria absoluta está desfeita e o País tanto pode continuar entregue a José Sócrates como voltar às mãos das pessoas que estiveram esta semana, alinhadas e juntas, na apresentação da candidatura de Santana Lopes a Lisboa: Manuela F. Leite, Paulo Portas, Aguiar Branco (ministro da Justiça com Santana), etc., etc.

Ou seja: bastou pouco mais de ano e meio (porque Sócrates beneficiou de dois anos de "estado de graça" como nenhum outro primeiro-ministro em Portugal) para o País, deprimido, voltar a estar perante uma escolha muito semelhante. Tão semelhante que só teólogos iluminados, como José Lello ou Pacheco Pereira, entre outros, conseguem ver diferenças significativas onde a maioria dos cidadãos, com desilusão, apenas vê mais do mesmo e duas experiências falhadas.

Ainda assim, a responsabilidade de Sócrates na delapidação do património herdado é maior. Ele chegou ao poder porque foi visto como uma esperança para muita coisa, a começar pela restauração do sentido de Estado perante o fracasso da aventura Santana, que se seguiu à deserção de Barroso.

Sócrates melhorou mesmo essa imagem positiva com a opção por reformas corajosas. No auge do afrontamento a muitos dos poderes socioprofissionais ele ainda tinha níveis de popularidade absolutamente surpreendentes.

O pior veio com o autoritarismo que lhe está na personalidade, nas polémicas pessoais em que também se consumiu uma parte da superioridade moral que apresentava à partida e nesta profunda crise financeira e económica que varreu com um sopro toda a autoconfiança em que assentavam os complexos de superioridade da actividade governativa.

Hoje, olhando as sondagens, vemos que PS e PSD estão empatados. Ambos os partidos podem ganhar o governo no final de Setembro. Os portugueses, quatro anos depois, estão perante as mesmas opções, quase as mesmas pessoas. E deve, entretanto, ter acontecido "qualquer coisa" ao Governo do PS para que os nomes da elite do PSD e do centro-direita, tão criticados no passado, sejam hoje de facto uma possibilidade para o futuro.

Este é o verdadeiro estado da Nação. Mas também é um debate que ninguém quer.


2-Outra sondagem, esta realizada pela Universidade Católica sobre a intenção de voto nas eleições para a Câmara Municipal do Porto, não deixa dúvidas: Rui Rio, se não houver qualquer calamidade, irá ganhar a confiança dos eleitores da sua cidade pela terceira vez consecutiva. À boa maneira do futebol, vai fazer o "tri". E começo precisamente por esse ponto: Rui Rio é o homem a quem se deve a demonstração de que o futebol é um tigre de papel. Não mete medo aos eleitores.

Hoje sabe-se bem que as pessoas, no Porto como em qualquer ponto do País, distinguem entre os interesses do seu clube e da sua cidade. São capazes de estimar um presidente que constrói um projecto desportivo de sucesso e ao mesmo tempo de escolher para a sua cidade um homem independente e orientado por valores superiores.

E nem sempre foi assim.

Na cidade do Porto, num passado recente, com Fernando Gomes e Nuno Cardoso, a promiscuidade era evidente. E até havia quem acreditasse que Pinto da Costa tinha a capacidade de eleger e depor presidentes de câmara como quem convida um árbitro a ir tomar um copo a casa. Não é assim - e essa demonstração é um mérito que se deve a Rui Rio.

A segunda reflexão que cabe fazer é esta: o PS deu cabo de uma boa candidata, Elisa Ferreira, com a dupla candidatura ao Parlamento Europeu e à câmara municipal. Em Sintra, também Ana Gomes não deve escapar a um processo semelhante. Subestimar a inteligência dos eleitores para detectarem o oportunismo não é de todo uma boa estratégia. Ainda bem.

Manuel Pinho perdeu por um segundo a compostura, cometeu um erro inacreditável e pagou por ele. Melhor: vai pagar por ele durante muitos anos da sua vida. É por isso que não me junto ao coro de hipocrisia daqueles que tanto gostam de assinalar homens de plástico como atiram pedras aos homens que são autênticos até nas suas fraquezas.


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