11/07/2009

O MEU RELATÓRIO

Opinião de João Marcelino


1 Se, como diz Maria de Belém, presidente da comissão de inquérito ao Banco de Portugal, cada português tem a possibilidade de fazer o seu relatório (e, acrescento eu, até de poder votar em Setembro próximo de acordo com esse relatório), já agora faço o meu, resumido.

Começo: Vítor Constâncio é um homem sério, foi transparente nas suas respostas, mas também por elas se percebeu que a supervisão bancária falhou rotundamente, como se viu no BCP, com Jardim Gonçalves e seus compinchas, e sobretudo nos escandalosos processos do BPN e BPP. Mesmo dentro do actual quadro de supervisão, que precisa de ser mudado, o governador podia ter sido forte, frontal, interventivo e decisor onde foi fraco, compreensivo, confiante e tolerante. É óbvio que ninguém é infalível, mas Constâncio falhou pessoalmente. Bastava que o relator tivesse sido outro qualquer elemento da comissão para as conclusões terem sido diferentes. Todos percebemos isso, como também percebemos que a oposição não queria conclusões, queria mesmo, e só, a cabeça do governador. Lamento as duas posições, embora admita que o lugar do simpático regulador pudesse efectivamente ter sido posto em causa por uma menos simpática relatora. Houve matéria para tal. Espero, por isso, que as comissões parlamentares repitam futuramente a intranquilidade desta mas que lhes juntem no final o rigor, a objectividade, o bom senso. Desta vez tal não aconteceu. Houve espectáculo apenas, no final funcionou a maioria, e percebemos todos que o jogo tinha um resultado definido à partida pelas regras enunciadas com sinceridade por Alberto Martins, líder parlamentar do PS, há cerca de três meses: "Nós temos a maioria absoluta e temos a responsabilidade de decidir tudo o que a Assembleia da República decide", disse ele. E, pelos vistos, relatava a verdade.

2 A sondagem na Universidade Católica confirmou o que julgávamos saber: a Esquerda tem uma folgada maioria sociológica em Lisboa, mas Santana Lopes tem muitas possibilidades de regressar à presidência da câmara. Se isso acontecer, a culpa não será de António Costa, que tem sido um presidente empenhado e competente, além de que tudo tentou para encontrar uma plataforma abrangente de apoio à sua candidatura. A culpa será, então, de Francisco Louçã, de Jerónimo de Sousa e, até, de Helena Roseta/Manuel Alegre. Se isso acontecer, repito, toda a esquerda será responsável e terá criado um quadro onde haverá menos legitimidade para a crítica ao eventual governo de Santana.

Pode suceder na capital o que também é previsível para o País: como a esquerda à esquerda do PS só serve para protestar, provavelmente caberá ao centro-direita governar.

O Bloco de Esquerda é um partido tolerante com as drogas, com os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, com o aborto. Hoje, numa evolução notável que as novas gerações ignoram, até são já pela democracia representativa e admitem mesmo que Portugal faça parte da União Europeia. Mas um sindicalista (perdão: o seu sindicalista) a jantar com o ex-ministro Manuel Pinho?! Aí, alto, que há desvio! Fracturar, sim, mas devagar. E, além do mais, nunca se esqueça o camarada António Chora que o BE só admite actos taurinos em Salvaterra, onde governa a sua única câmara no País.


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