28/03/2008

O botão de rosa

foto de Photoart-Olhares





Que lindo botão de rosa
Aquela roseira tem
De baixo não se lhe chega
Acima não vai ninguém

No muro de uma vivenda
Está uma jovem sentada
Prazenteira e descuidada
Comendo a sua merenda
Usava saias de renda
A rapariga formosa
Mas era tão graciosa
E por baixo o namorado
Dizia entusiasmado:
Que lindo botão de rosa!

A jovem não reparava
Na testemunha indiscreta
Olhando o prado quieta
Com gosto a broa trincava
Mas o rapaz que olhava
E analisava também
Os encantos do seu bem
E murmurava baixinho:
Olha que tanto espinho
Aquela roseira tem!

Por fim a mocinha linda
O rapaz intruso viu
Mas disfarçou e fingiu
Não o ter topado ainda
A merenda estava linda
Mas ela não se conchega
Entre a posição de pega
Ele diz todo airoso:
Aquele botão formoso
De baixo não se lhe chega!

Ela ouviu isto e com ronha
Sorrindo pouco se ensaia
Ainda mais ergueu a saia
Fingindo não ter vergonha
Numa enrascação medonha
O rapaz cora, porém
Ela o riso não sustém
E olhou para baixo trocista:
Goza meu amor com a vista
Mas acima não vai ninguém!




António José Belo


Uma figura popular de Montalvão


Foi um homem multifacetado, o ti António José Belo. Natural de Montalvão, morreu em Nisa, com 90 anos, no dia 25 de Junho de 2002.
António José Belo, foi um homem de intervenção, dedicado a uma causa, a da cultura popular, em favor da sua terra, do seu "tchon", que ele cantou e divulgou de modo admirável, num tempo em que os apoios, aos mais diversos níveis, eram irrisórios, e em que a força do querer, a "carolice" e o amor ao chão pátrio, removiam montanhas, transformando os sonhos em realidade.
António José Belo, foi, inquestionavelmente, um homem de sonhos e de horizontes vastos, que não se confinavam ao seu "avião de carreira" (desenho com o qual identificou as formas de Montalvão e que fez a capa de “ O Meu Livro”). Viajava, vezes sem conta, em viagens quase permanentes, através da poesia (as populares quadras e décimas), das figuras que esculpia num pedaço de madeira, a que dava formas bizarras ou de que aproveitava os contornos, mantendo a simbologia bruta e original, extraída da terra. Artesão, músico, apresentador de espectáculos, construtor de cenários e de peças de teatro, animador cultural, etnógrafo, nada do que se relacionasse com o seu "Montalvão querido" lhe passava à margem.

Há cinco anos, morreu o homem, o artista popular. Morreu, também, um pouco da história de uma terra do interior, no extremo norte do Alentejo, que já foi grande noutros tempos e que hoje definha, lentamente, por falta de braços e de sorrisos juvenis.

Para que outros possam seguir o exemplo, fica o registo de mais umas décimas, a lembrar uma figura popular de Montalvão e uma memória que o tempo não apaga.

Mário Mendes

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